Historia de  Nho Raul

 

A longevidade de Nhó Raul de Pina sempre impressionou a todos, não só pela soma de anos, mas pelo vigor e frescura que o violinista imprimia em tudo o que fazia. Em 2002, quando visitei a Ilha Brava, tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Ele costumava andar a pé de Cova da Joana até a Vila de Nova Sintra. Um belo dia, fez-me uma visita surpresa, de noite, na Pensão do Paulo. Naquele jeitinho doce de falar, disparou: “N ben odjá si Nha ta da-N nha korasan di vorta”. Nhó Raul era um romântico incorrigível. Era também um artista talentoso, um ser humano doce, uma biblioteca viva sobre a história das gentes da Djabraba – foi pupilo de Eugénio Tavares, a quem admirava profundamente.

Morreu aos 103 anos. Bem vividos. Viveu sua música intensamente. Amou muito, as mulheres sobretudo. Deixa 29 filhos vivos, de um total de 38 descendentes. Muitos netos, bisnetos… era, por isso, um homem riquíssimo, em termos de humanidade. Não consigo ficar triste com a sua morte, ocorrida a 24 de Março, uma quinta-feira. Mas estou muito grata por Nhó Raul ter sido um cabo-verdiano da gema. E de ter dado o melhor de si, por tanto tempo!