Djabraba bus fidjus ca negabu

2011-06-04 21:52

 


 Conta-se pelas dezenas, os anos que três filhos bravenses passaram fora do seu berço natal:
Armando Madeira, 38 anos fora de Djabraba, John Miranda 42 anos e Valdir Macedo 45 anos, ou seja desde que de lá saíram. 

Motivos vários mas de ordem comum estão na origem desta ausência. Os condicionalismos típicos da emigração. Jovens, ou mesmo crianças, que saíram do torrão natal que se adaptaram ao país de acolhimento.

Uma pátria madrasta mas que os tratou de igual com seus filhos. Constituíram família e criaram raízes. 

Mas eis que de um momento para o outro, surge uma oportunidade. Um convite para assistir ao acto inaugural da viagem de uma nova embarcação rápida e moderna concebida para arrancar Djabraba do seu crónico isolamento. 

E onde melhor do que o colo de uma crioula para embalar, na melodia das cordas suaves do John Miranda’s Band e sulcar o canal até chegar às ondas de mar de Furna? 

Chegado à quente cidade da Praia, depois de umas horas a bordo do Boeing da TACV, Mandu e comitiva-quais “filhos pródigos”-não viam a hora de embarcar a bordo do estreante “Kriola” e pisar sua Djabraba natal. 

Chegado às terras de Nho Tatai, Mandu viu, o campo, pronto para receber relva, onde marcara 4 golos, no dia em que o treinador resolveu deixá-lo no banco. Percorreu as ruas que vão sendo alcatroadas aqui e ali, mostrou a casa onde nasceu às filhas Nicole e Christine e recordou tempos de infância com velhos amigos. 

Muito diferente daquele triste dia de 1972, foi a viagem de barco “na caminho di Djabraba”, com o “Kriola” cumprindo a sua árdua tarefa, para o qual foi concebido, de vencer as duras correntes, fortes ventos e alterosas vagas próprios das intempéries desta altura do ano. Sem dúvida, um bom baptismo de fogo a que esse barco, que veio de Singapura, foi submetido. 

 As duas filhas vivenciavam a sua primeira experiência “na rotcha, na pedra na mar, na mundo de um cabo-verdiano”, como cantou Danny Mariano.

E gostaram. Gostaram principalmente da famosa morabeza das gentes da Brava, principalmente da “old lady” que as acariciou. 

Gente morabi que viu essas filhas americanas, de sangue cabo-verdiano, dançarem morna, coladeira e funaná, tão bem ou melhor que as nascidas na terra de Nho Eugénio. 

Esta mesma alegria do regresso à terra, era compartilhada pelo violinista John Miranda. Acompanhado dos irmãos Ney e Pulan, 42 anos depois, John recordo em “Pé di Rotcha” com os olhos vazados em lágrimas o falecido pai Josézinho. 

À sua mente vieram as imagens do ponto de partida para sua odisseia pelos 7 mares quando aos 14 anos deixou Djabraba, primeiro a caminho de S.Vicente e depois rumo ao desconhecido. 

Senegal foi onde chegou clandestinamente a bordo de um barco americano. Descoberto, com mais dois acompanhantes, fugiu na calada da noite, atravês das janelas do camarote onde estavam retidos. 

Foi o início de uma aventura que o levou à Holanda, Irão, Rússia e outros mundos e povos de quem tem “sabe e malgóss”, como dizia o outro marinheiro, Manuel d’Novas, para contar. 

 Combateu iraquianos, porque como reconhece, na força da juventude, decidu saltar para a piscina do hotel onde estava hospedado, com roupas e tudo. Resultado: apanhou um “black eye”. 

Depois conheceria América, estabeleceu-se profissionalmente, formou família e só em Janeiro voltou às serenatas na Vila de Nova Sintra. 

Numa Brava onde casas abandonadas, e a cair aos pedaços, surgem ao lado de edifícios modernos e onde as estradas modernas desafiam as velhas, John regressou com um outro olhar de Djabraba. Hoje pensa numa ilha com outras perspectivas de vida e onde pensa construir uma casa ou fazer algo parecido. 

Valdir Macedo ainda demorou mais tempo a regressar. Indescretível emoção tomou conta dele. Visitou a casa onde nasceu e foi dar mantenha aos velhos que ainda pôde ver e a quem levou mantenhas dos seus familiares. 

Brava que um dia, tão tristemente, chorou a partida de seus filhos, hoje contenta-se com esse tão esperado regresso ao seu regaço. 

Um imigrante de sucesso
Mandu Madeira um emigrante de sucesso chegou aos Estados Unidos em 29 de Janeiro de 1972. 

 Quis o destino que ficasse ligado profissionalmente ao seu apelido Madeira. É da Madeira que transforma em obras úteis e produtivas que obtem seu pão de cada dia e educa a meia dúzia de filhas que, embora falando apenas o ingles, apreciam uma boa catchupa e dançam-e de que maneira-a nossa música. 

É este o retrato do homem que nos recebeu em sua casa em Weymouth Massachusetts para nos contar, com entusiasmo, a estória de um regresso ao ninho, 38 anos depois daquela triste despedida dos amigos e da avó que, como escreveu o trovador Armando de Pina, “sem certeza de nu torna encontrâ”. E de facto nunca mais se encontrariam. 

Mandu encontrou ferramentas em casa. E como bom Madeira, aprendeu o ofício com o pai. No Weymouth Vocational High School, aperfeiçoou a técnica de carpintaria. 

Trabalhou com alguns patrícios. Estabelceu sua própria empresa. Em 1979 foi um dos trabalhadores que ajudaram a levantar Scituate do tristemente lembrado temporal de 78 que devastou o litoral daquela cidade portuária. 

 Já em 1987 entrou para os quadros de carpinteiros que prestavam serviço no então Boston Garden dos Celtics e Boston Bruins, (actual TD Garden) onde até hoje permanece exercendo o cargo de Director Executivo dos serviços de manutenção e instalação do pavimento para as respectivas actividades desportivas e concerto, conforme for o caso. 

No seu dia a dia, Armando Madeira é o activo presidente do Ideal Club em East Bridgewater, histórico clube que ganhou outra dinâmica, a partir do momento