"Entrou aqui para matar. Baleou o ‘Vadinho’ mas podia ter sido qualquer um. Agora, a guerra vai começar", disse ao jornal português Correio da Manhã, revoltado, Sebastião dos Santos, 40 anos, morador do bairro e compadre da vítima. Osvaldo Gaspar, de 36 anos, foi atingido por uma bala num dos pulmões, com gravidade. Trabalhador na construção civil, casado e com um filho de cinco anos, foi imediatamente transportado para o Hospital Garcia da Orta, em Almada, e depois transferido para os Cuidados Intensivos do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. A bala ficou alojada num dos pulmões mas Osvaldo encontra-se em situação estável.
Tudo terá começado por volta das 22h00 de sábado quando um Peugeot branco com três homens entrou no bairro e um deles, armado, começou a disparar sobre várias pessoas, incluindo crianças, que se encontravam no local.
Chamada a intervir, a GNR recebeu uma chuva de pedras e garrafas quando chegou ao local. As trocas de tiros duraram a noite toda de sábado, entre meia centena de populares e aquela força policial, que, de resto, mantém o reforço de efectivos no Bairro para manter a calma. O CM avança que não se registaram quaisquer detenções. Os confrontos resultaram em mais dois baleados, que já tiveram alta hospitalar. Durante a operação policial foram invadidas duas casas de famílias cabo-verdianas.
Promessas de vingança
Ao que o jornal português apurou, o atirador não mora no bairro do Torrão um ajuste de contas o terá levado até lá no sábado. "Há duas semanas, ele entrou aqui de carro e ia atropelando três crianças. Repreendemo-lo, ele ainda gozou, então demos-lhe uma tareia. Depois ele abandonou o carro, que já estava bastante danificado e fugiu", contou ao CM Virgínio Francisco, de 32 anos. O carro em causa foi depois incendiado pelos moradores e ainda permanece no bairro.
"O tiroteio foi a confirmação de que ele voltou para se vingar de todos nós. Somos pacíficos, mas isto não fica assim", ameaçou Daniel Manuel, de 33 anos, outro morador.
O bairro do Torrão nasceu nos anos 60 e começou por ser constituído por casas de pescadores. Hoje é um retalho de casas amalgamadas em ruas exíguas. Embora sem avançar datas, a autarquia afirma ter em elaboração um plano de pormenor que visa a reconversão do espaço e o realojamento de todos os seus habitantes.