Cabo Verde é um sucesso na luta contra a desertificação e a seca

17-06-2011 14:42

 

Cidade da Praia, 17 Jun (Inforpress) - Cabo Verde tem sido um exemplo de sucesso na luta contra a desertificação e a seca desde sempre, garantiu à Inforpress o ponto focal nacional para a Convenção de Luta contra a Desertificação, Domingos Barros. 


Na evocação do Dia Mundial da Luta contra a Seca e a Desertificação, que se assinala, hoje, 17 de Junho, este ano sob o lema “Onde há floresta, há vida”, o ponto focal de Cabo Verde para a Convenção de Luta contra a Desertificação confirmou ter sido Cabo Verde o segundo país no mundo inteiro e o primeiro em África a ratificar esse instrumento das Nações Unidas. 

“Cabo Verde mostrou que, realmente, se preocupa com a Convenção, com a desertificação e a seca”, defendeu Domingos Barros, para quem o país tem dado provas na sua implementação, como o atestam os quatro relatórios nacionais já elaborados à intenção das Nações Unidas.

No terreno, reconhece, existe um Ministério do Desenvolvimento Rural “que não faz mais nada senão implementar a Convenção de Luta contra a Desertificação”.

Para o efeito, fez saber, tem uma Direcção-Geral de Agricultura, Silvicultura e Pecuária que, “minuto a minuto tudo faz para reter um palmo de solo, filtrar um litro de água, fixar uma árvore, alfabetizar um homem por várias escolas de formação criadas, organizar as comunidades em associações e preocupar-se com a gestão sustentável das florestas”.

Desde antes da independência, reafirmou esse engenheiro florestal, acções de vulto têm sido levadas a cabo, graças às quais “milhares e milhares de metros cúbicos de água têm sido mobilizados para a irrigação e para o consumo humano e animal”.

Trata-se de um processo que continua nos nossos dias, advogou o ponto focal, acrescentando que “milhares e milhares de diques de retenção de água foram construídos, ao mesmo tempo que se fixaram milhões de árvores por todo o país”.

Agora, “temos florestas, principalmente nas zonas áridas e semi-áridas, que têm um grande impacto na luta contra a desertificação”, precisou Domingos Barros, dizendo que todo esse empenhamento está sendo reforçado pelas barragens que começaram a ser construídas, “visto que a barragem de Poilão já deu provas com grande impacto no restauro do ecossistema a jusante e a montante da mesma”.

São, como disse, passos importantíssimos para uma gestão sustentável dos recursos naturais de Cabo Verde e que ontem ficaram mais consolidados com o lançamento da primeira pedra para a construção de uma escola nacional de hidroponia pela ministra do Desenvolvimento Rural, Eva Ortet.

Domingos Barros começa por destacar o impacto que a infra-estrutura vai ter “na formação de jovens e de camponeses em virtude da possibilidade de produção de produtos hortícolas em pequenos espaços poupando água e solo”.

Instado sobre o investimento feito na reflorestação com a acácia americana (espinheira), o engenheiro florestal é de opinião que esta espécie “tem as suas potencialidades”. Sobretudo nas zonas áridas, confirmou, é uma espécie “que vai bem com a luta contra a desertificação, com peso no fornecimento do material lenhoso, entre outras”.

O importante, defendeu, “é que a acácia deve estar no seu lugar”, ou seja, não pode ser plantada onde existem nascentes ou ao lado de um poço.

Vestir Cabo Verde de verde é, pois, uma aposta ousada que se mantém firme, com iniciativas várias, tendo o Ministério do Desenvolvimento Rural como meta a fixação de um milhão de plantas por ano em todo o arquipélago.

E isso inclui fruteiras que, hoje, têm sido plantadas nas zonas húmidas, sobretudo nas ilhas agrícolas, com vantagens claras na luta contra a desertificação e na redução a pobreza, na melhoria da dieta alimentar das famílias e na minimização dos efeitos da seca.

E quando as comunidades estiverem organizadas em associações, elas próprias poderão produzir as suas plantas, fazendo disso também uma fonte de renda, argumentou Domingos Barros.

Presentemente, indicou, Cabo Verde já tem fixado para cima de 30 milhões de essências florestais, cobrindo uma superfície de aproximadamente 21 por cento do território nacional.

Por tudo isso, considera que o país vai conseguir atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio também no que se refere à qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, graças aos investimentos feitos na conservação de solos e da água.

No litoral, admite existirem dificuldades, nomeadamente com a intrusão salina, “uma preocupação que tem manifestado bastas vezes”. A solução, assegura, passa pela dessalinização de água para a rega e pela sensibilização dos camponeses “para a não sobre exploração dos poços com bombagem”.

A Convenção de Luta contra a Desertificação foi adoptada a 17 de Junho de 1994, em França, e entrou em vigor em Dezembro de 1996. O seu texto inclui dentro do tema da desertificação questões vinculadas com a pobreza e a degradação do meio ambiente nas zonas rurais, em particular em África.

Reconhece que os usuários dos recursos naturais desempenham uma função decisiva na busca e aplicação de soluções e insta a seguir um enfoque integrado na luta contra o fenómeno.

Ao declarar o Dia Mundial de Luta contra a Desertificação e a Seca, a Assembleia Geral das Nações Unidas quiz sublinhar que ambos os problemas têm dimensão mundial e que afectam todas as regiões do mundo, razão porque chamou a atenção para se desenvolver a cooperação internacional e sensibilizar a opinião pública para essa problemática.

Em Cabo Verde, a implementação da Convenção está a cargo de várias instituições e estende-se a outras convenções das Nações Unidas. Para além da Direcção-Geral da Agricultura, Silvicultura e Pecuária, há a Direcção-Geral do Ambiente com mandato para a Convenção sobre a Biodiversidade, e o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, que responde pela Convenção sobre as Mudanças Climáticas, ambas aprovadas na Conferência do Rio (1992).